22 de fev. de 2010

Oi Gurizadaaaaaa Terceirão......São José....Boa Leitura


POLUIÇÃO GENÉTICA
A poluição genética resulta do cruzamento de variedades transgênicas (OGMs) com variedades selvagens e convencionais. Esse cruzamento pode causar a perda de biodiversidade, irreversível e incontrolável. Estima-se que 50.000 espécies são extintas todos os anos, que os ecossistemas encontram-se altamente instáveis e desequilibrados – e a sobrevivência do Homem depende diretamente da biodiversidade. Os OGMs, por serem seres vivos novos, não têm predadores naturais e podem, em certos casos, expandir-se com facilidade, competindo diretamente com as espécies nativas. A aplicação de um herbicida não seletivo a culturas de OGMs tolerantes elimina outras plantas, mesmo que benéficas. Insetos, aves e mamíferos dependentes são, consequentemente, afetados. Existem ainda evidências de que plantas transgênicas podem tornar-se tóxicas para os animais. Resultado global: a previsível ruptura dos já fragilizados ecossistemas.A poluição genética é diferente da poluição de qualquer outra natureza, pois tem a possibilidade de se difundir por reprodução, reduzindo a chance de controle por eliminação da fonte do poluente e fugindo completamente ao controle, o que representa um risco considerável a ser analisado. Um relatório recente do governo americano sugere que será muito difícil impedir que plantas e animais geneticamente modificados tenham algum efeito sobre o meio ambiente e as pessoas, ainda que involuntário; o documento, divulgado pelo Conselho Nacional de Pesquisa da Academia de Ciências dos EUA, diz que, embora muitas técnicas estejam sendo desenvolvidas com o objetivo de impedir organismos geneticamente modificados ou seus genes de se disseminar na natureza, a maioria delas não parece ser eficaz. Uma das principais mensagens do documento é que há muito poucos métodos de bioconfinamento bem desenvolvidos. Os transgenes podem ser transferidos para as espécies nativas através de processos naturais que sempre foram inofensivos e fundamentais para o aparecimento de novas espécies. Quando arrastado pelo vento, o pólen pode percorrer mais de 180 Km num só dia, e viagens bem mais longas podem ocorrer ocasionalmente.
Torna‑se assim impossível separar as culturas transgênicas das convencionais, dado que a contaminação genética ocorre sempre: não há uma distância de separação que possa ser considerada segura.Para evitar a erosão genética e a perda de biodiversidade, são necessários estudos de impacto ambiental que levem em conta as características do OGM e do ecossistema onde será inserido. O milho consegue jogar o pólen a muitos quilômetros, mas a soja se autopoliniza. Cada planta é uma planta, cada proteína é uma proteína.
As gramíneas apresentam uma polinização anemófila (pelo vento). As principais gramíneas são o arroz, a aveia, o trigo, o milho, a cevada, o centeio, o sorgo e a cana-de-açúcar.
O cultivo de transgênicos reforça a tendência à uniformidade genética na agricultura, com grandes monoculturas utilizando umas poucas variedades da mesma espécie. Estas variedades estão sendo selecionadas apenas em função de umas poucas características, como a resposta à adubação química no melhoramento convencional e a resistência a uma ou outra praga ou doença, ou ainda a herbicidas, no caso dos transgênicos, estreitando a variabilidade genética destas plantas, tão vital para sua adaptação e evolução no futuro. Isto torna estas culturas extremamente suscetíveis ao ataque de pragas e doenças com grandes riscos para a produção e levando a demandas cada vez maiores de controles com agrotóxicos perigosos para o meio ambiente e a saúde.

Está demonstrada por pesquisas de universidades americanas a possibilidade de transferência espontânea, para plantas silvestres da mesma família, dos genes introduzidos numa variedade cultivada. Por exemplo, os genes introduzidos em espécies cultivadas para torná-las resistentes à herbicidas podem transferir-se espontaneamente para plantas silvestres com risco de torná-las superervas daninhas de difícil controle. Os "transgenes" também se transferem para variedades tradicionais ou convencionais da mesma espécie em campos vizinhos.

Isso está acontecendo com o milho, no México, e já foi comprovado cientificamente, conforme divulgado pela revista científica britânica Nature (29/11/2001). Os pesquisadores da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), David Quist e Ignacio Chapela, que assinaram o trabalho, comprovaram que o pólen de milho transgênico fertilizou o milho nativo. O México é o centro de origem do milho. Há dezenas de variedades no país, as quais representam a base financeira para milhares de famílias. O milho é tão importante para os mexicanos que ultrapassa a questão econômica e assume feições culturais. Para proteger esse tesouro genético, o governo do México baniu, em 1998, o cultivo de versões transgênicas da planta - que tem polinização cruzada - para impedir a contaminação das variedades nativas. Neste ano, exames conduzidos por comunidades indígenas e camponesas descobriram DNA de milho transgênico em pelo menos nove Estados produtores. Entre eles, está a proteína Bt-Cry9c, que identifica o milho Starlink, da Aventis. O grão é plantado nos Estados Unidos como fonte de alimentação animal, mas é proibido para o consumo humano. As causas da contaminação ainda não estão claras, mas sabe-se que o pólen do milho pode viajar pelo vento.


Nos últimos anos, ervas daninhas resistentes ao glifosato têm surgido em Estados americanos produtores de soja transgênica. A soja RR foi modificada geneticamente para que se tornasse resistente ao herbicida glifosato. O glifosato age pela inibição de enzima essencial ao desenvolvimento das plantas, mas que não existe em nenhum outro ser vivo. O que a biotecnologia viabilizou foi a produção de maior quantidade dessa enzima, o que permite que ela sobreviva à aplicação do herbicida. Isso significa que o Roundup (o herbicida) ou outra formulação de glifosato pode ser usado livremente para eliminar as ervas daninhas, sem afetar a soja. A soja Roundup Ready, evento 40-3-2, foi produzida pela introdução da seqüência de codificação cp4 epsps, naturalmente tolerante ao glifosato, no genoma da soja, usando-se transformação por aceleração de partículas, também conhecida por biolística.
A tendência é que os agricultores tenham de usar outros herbicidas para vencer a resistência dessas variedades e, por conseqüência, perder sua vantagem competitiva. Nos primeiros três anos de cultivo (1996 a 1998), os transgênicos resistentes aos herbicidas reduziram o consumo de herbicidas, comparado com os cultivos convencionais, em uma quantidade estimada em 8,3 milhões de quilos (kg). No entanto, nos últimos três anos (2001 a 2003), a quantidade destes herbicidas aplicados nestas mesmas variedades aumentaram em 36,3 milhões de quilos (kg), comparado com cultivos convencionais. Os dados do Departamento de Agricultura dos EUA mostra um inacreditável aumento de 22% na quantidade de glifosato aplicado por hectare de soja transgênica entre 2001 e 2002. Conseqüentemente, o grande aumento do uso de glifosato aplicado por hectare de soja transgênica combinado com o aumento da área de soja Roundup Ready da Monsanto foi a principal razão para o aumento no uso de herbicidas nos Estados Unidos.O estudo, no Brasil, do arroz Liberty Link, da AgrEvo, foi cercado de cuidados incomuns. Segundo a CTNBio, o OGM poderia se misturar a uma variedade selvagem chamada de "arroz vermelho", praga que infesta plantações no Sul, e criar uma "supererva".
Embora a maioria dos OGMs dificilmente poderiam vir a se tornar problema desse tipo, o fato de 11 entre as 18 principais espécies invasoras (super-invasoras) no mundo serem aparentadas de espécies cultivadas permite levantar esta possibilidade de risco, em especial para ambientes naturais como reservas biológicas. Entre as espécies mais citadas como possíveis super-invasoras estão Sorghum bicolor e Oriza sativa. Provavelmente a espécie cultivada de sorgo, S.halepense é derivada de S.bicolor e S.propinguun que são invasoras. No Caso do arroz, o arroz vermelho é, na realidade, da mesma espécie que o arroz cultivado e a passagem do gene para resistência a herbicida não teria barreira alguma para ser transferido para o arroz vermelho. Mas o exemplo mais claro do potencial de criação de super-invasoras a partir de hibridação de espécies silvestres com OGMs é o caso de Brassica napus que embora tenha 19 cromossomos (2n=38) teve o gene para resistência transferido para Brassica campestris, que tem 10 (2n=20) cromossomos. Assim, mesmo que a frequência do evento seja muito baixa, sobre forte pressão de seleção haverá fixação da característica que resulte em maior aptidão no ambiente. Híbridos de canola, girasol e curcubitáceas são facilmente produzidos por polinização via insetos. Espécies polinizadas pelo vento são particularmente problemáticas. O arroz vermelho, uma das principais invasoras em arroz irrigado, certamente tornar-se-á resistente em poucas gerações.Da mesma forma, os evolucionistas alertam para o nascimento de insetos resistentes à toxina Bt. O gene para resistência que vem sendo mais utilizado é o que codifica para a produção de proteína tóxica da bactéria Bacillus thuringiensis. Na técnica mediada pela bactéria Agrobacterium tumefaciens, insere-se primeiro o gene na bactéria, e depois infecta-se algum tecido da planta que se quer transformar, com esta bactéria. Este tipo de bactéria tem como característica transferir parte de seu DNA para o genoma das células que infecta.

Essa bactéria (Bt) há quase um século vem sendo utilizada como agente de controle biológico de insetos, uma vez que é letal, especialmente para grupos de lepidópteros (mariposas e borboletas) e coleópteros (besouros). A inserção de genes para toxina de Bt em plantas cultivadas se traduz em desvantagens para o ambiente e para processos evolutivos, a maioria das quais equivalentes às causadas por sobredosagem de agrotóxicos.

O primeiro risco apontado neste caso é o de impacto da toxina, quando expressa na planta, sobre espécies não alvo. Polinizadores, predadores e parasitóides de insetos podem ser afetados de diferentes maneiras. As folhas caídas das plantas transgênicas produtoras de Bt podem alterar a composição biológica do solo, provocando alterações na absorção de nutrientes pelas plantas ou mesmo toxicidade para os organismos deste meio – que desempenham um papel fundamental no equilíbrio biológico do solo bem como nos vários ciclos biogeoquímicos (ciclo da água, nitrogênio, fósforo, enxofre, etc.)O exemplo do tabaco no Sul do Brasil porque é uma cultura produzida intensamente nesta região e para a qual já existe solicitação, junto à CTNBio, de liberação no meio ambiente, de tabaco modificado para resistência a várias doenças. Nicotiana é um gênero de Solanáceas que representa um grupo bastante variável quanto ao cariótipo, tendo espécies com diferentes números de cromossomos. Mas é também um grupo muito promíscuo. A polinização de muitas de suas espécies é feita por mariposas da família Sphingidae, que são insetos robustos e com grande capacidade de vôo a longas distâncias. A possibilidade de transferência de genes para resistência a patógenos para espécies aparentadas a partir do cultivo de tabaco transgênico é provavelmente uma questão de tempo. Há, portanto, o risco de termos, via hibridação, a seleção de linhagens resistentes a doenças e com potencial invasor de cultivos e de ambientes naturais. Dependendo das condições em que esse processo ocorrer é ainda possível sugerir um impacto sobre a biodiversidade via eliminação de espécies endêmicas em áreas onde essas novas pragas encontrem condições favoráveis para sua expansão e competição com espécies autóctones.A probabilidade de cruzamento não depende da característica introduzida nas plantas transgênicas ou do melhoramento genético clássico, mas sim do sistema natural de reprodução de cada cultura. A soja, por exemplo, é uma espécie que se reproduz por autofecundação, o que minimiza o potencial de cruzamento com outras plantas de soja ou de qualquer outra espécie.
o caso do milho, uma espécie que se reproduz por polinização cruzada, diversos estudos já foram realizados a respeito das características e movimentação do pólen. Esse conhecimento permite que todos os cuidados sejam tomados antes da autorização do plantio em nível experimental e, posteriormente, para a liberação em escala comercial.
A realidade é que a promessa da biotecnologia não se cumpriu na área de alimentos, uma vez que os produtos que hoje chegam ao mercado não trazem qualquer tipo de vantagem em qualidade para o consumidor e tampouco são mais baratos. As possíveis vantagens para o produtor também são questionáveis. Transgênicos não são mais produtivos do que os não transgênicos (Lappé & Bailey 1998). Trata-se muito mais de uma corrida comercial. O interesse em recuperar rapidamente os investimentos de grandes corporações* e de garantir mercados futuros de sementes faz com que esses produtos sejam emprurrados goela abaixo de governos e da população, atropelando a demanda de pesquisas que garantam a biosegurança, em relação à saúde e meio ambiente, atropelando os debates e a legislação.Estados Unidos é o país maior produtor de organismos geneticamente modificados e seu principal defensor. Segundo a ISAAA (Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia), os EUA respondem por dois terços das áreas cultivadas no mundo, com ênfase em milho, soja, algodão e canola. Eles foram a primeira nação a plantar OGMs comercialmente, em 1996, e são os que mais exportam e consomem. A Argentina é o segundo país em produção de organismos geneticamente modificados: em 2002, correspondia a 23% da área total no mundo com plantações transgênicas. Toda a soja cultivada na Argentina é modificada. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, a produtividade da soja argentina na safra 2002/2003 é igual à obtida na de 1997/1998, antes da adoção dos transgênicos.Se a cultura de transgênicos se generalizar, a maioria dos agricultores terá de adquirir as sementes e herbicidas das empresas biotecnológicas, ficando ainda mais dependentes delas e com uma margem de manobra, face a situações imprevistas, diminuída. No caso particular do terceiro mundo, em que a alimentação depende da existência de variedades bem adaptadas ao clima de cada região (resultado de uma evolução e seleção de 12 000 anos) e de uma produção alimentar localizada e sustentada, o resultado será menos comida e, portanto, mais fome.


* As cinco maiores empresas do setor de biotecnologia: DuPont, Dow Chemical e Monsanto, nos EUA. As outras duas multinacionais ficam na Europa: a Novartis localiza-se na Suíça e a Aventis, na França.

Fontes: Revista Eco 21, Ano XIV, Edição 97, Dezembro 2004. (www.eco21.com.br)http://revistagalileu.globo.com/Galileu/www.stopogm.net/ biotecnologia/riscos.htmRevista de Agricultura, Piracicaba, V 76, fasc. 3. 2001. Maria Alice Garcia, Profª. Associada, Laboratório de Interações Inseto-planta - LIIP, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas

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